É um lugar ao sul, um
lugar onde/a cal/amotinada desafia o olhar.//Onde viveste. Onde às vezes no
sono/vives ainda. O nome prenhe de água/escorre-te da boca.//Por caminhos de
cabras descias/à praia, o mar batia/naquelas pedras, naquelas sílabas.//Os
olhos perdiam-se afogados/no clarão/do último ou do primeiro dia.//Era a
perfeição.
De Branco no Branco, 1984
Herança.// É a minha herança: o sorriso,/
o azul de uma pedra branca./ Posso juntarlhe, ao acaso da memória,/ um ramo de
madressilva inclinado/ para as abelhas que metodicamente fazem/ do outono o
lugar preferido do verão/, um melro que deixou o jardim público/ para fazer
ninho num poema meu,/ um barco chamado Cavalinho na Chuva/ à espera de
reparação no molhe da Foz./ Deve haver mais alguma coisa,/ não serei tão pobre,
cometemos sempre/ a injustiça de não referir, por pudor,/ coisas mais íntimas:
um verso de Safo/ traduzido por Quasimodo, a mão/ que por instantes nos pousou
no joelho/ e logo voou para muito longe,/ as cadências do coração/ teimoso em
repetir que não envelheceu.
De Os sulcos da sede, 2001
Qué bonita evocación de los pueblos blancos del Sur; la foto, magnífica.
ResponderEliminarEntrañable ese poeta pobre cuyos mayores tesoros son unos versos, unos recuerdos eróticos y una voluntad de permanecer joven.
Carlos San Miguel